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Eternamente Menina

Eternamente Menina

31.03.05

Sei lá o quê, ou o afagar de memórias...


Otília Martel
Pintura de Salvador Dali-Angustia

  

Perdida no meio dos muros que eu própria ergui, vivo a fantasia de ser aquilo que não sou capaz de ser. Pelo sonho e ilusão, encontro um equilíbrio pardo, amarelado, que suaviza a dor da minha própria ausência.

Na fantasia, sinto as tuas mãos. Tão diferentes das que conhecem a geografia do meu corpo.

No sonho, uns lábios de sabor a mel. Tão diferentes do sabor da rotina dos que conheço.

Na ilusão, o cheiro do teu corpo a maresia. Tão diferente do que já se confunde com o meu.

Pouco interessa quem és, se me permites a ilusão de me sentir renascer.

Mas, quando os meus olhos se abrem, apenas sinto a tua ausência em mim, a dor do desejo, a permanente insatisfação que me tolda a mente, que me acentua a dor, quase física, de te não ter.

Amor? Romance? Liberdade? Auto estima? Sei lá o quê…

À mercê de todos os outros, sempre os outros no meu pensamento, ergo bem alta a herança do preconceito de ser leal a mim própria, aos meus desejos e sentimentos.

Pelo bem dos outros, não hesito em actos de autofagia do que quero, do que me faria sentir mais mulher, mais pessoa, mais eu.

Tenho, em agonia, uma máscara de sorrisos pregada no rosto que, em oferenda, fazem os outros um pouco mais felizes.

Ainda pelos outros, pela lealdade aos outros, pela regra do estipulado como virtude, sou a tecedeira parcimoniosa do mais ignóbil crime – deixar que a Vida, apenas desenhe rugas no meu corpo e amargue o meu olhar!

Poderão os outros ser bafejados com momentos de maior felicidade, originados pela insatisfação a que me voto? Ou será ilusão? Valerá a pena?

Olho-me ao espelho…é difícil ver-me por detrás da máscara.

Receio perder-me de vez…

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