Tinteiro transparente...
Quis deixar
uma letra pequenina,
onde coubesse
o sol e o vento,
o humor e a alegria,
letra minha
que não fosse solidão
mas um pouco de
cheiro a maresia.
Mas a névoa
não deixa ver a letra
desinspirada
pelo abandono
de multidões
que nos deram tudo
e deixaram-nos
o nada.
Hoje, vagabunda neste espaço,
caminho lado a lado
sem letras.
Fechada neste
tinteiro transparente,
esperando que alguém lhe tire a tampa
e que as palavras se soltem,
diluindo o vazio
que na mente se instalou.
Palavras, voltem aqui,
a este espaço
que conheceu diálogos quentes,
música de ambiente,
mas que um vendaval
limpou e, triste aqui estou,
onde nem a alegria entrou.
Senta-te aqui comigo,
dita-me palavras
murmuradas ao ouvido
da saudade
de ti, de mim, de todos aqueles
que nunca estiveram fechados
num tinteiro transparente,
mas que iluminavam este sítio
e a minha mente!
(27/07/2004 - originalmente colocado num Fórum do Terravista)