Efémero
Impensadamente retirei um livro da prateleira da estante do quarto/escritório que é o meu poiso, há anos, herdado da filhota, quando se mudou de malas e mobília para a casa dela, quase paredes-meias com a minha.
Gosto de ler antes de adormecer, para que as notícias e afazeres do dia sejam substituídas pelas "imagens" que o poema me transmite e, assim, o meu sono ser mais leve.
Acordei com a imagem do lago no meu olhar…
Pintura de Andres Castellanos
Efémero
«Os teus olhos, outrora nunca cansados dos meus,
Ocultam-se tristes sob pálpebras cerradas
Porque o nosso amor declina.»
E ela disse:
«Embora o nosso amor esteja em declínio, fiquemos
Mais uma vez junto à solitária margem do lago
Unidos nessa hora de tranquilidade
Quando a cansada e infeliz criança, a Paixão, adormece.
Como parecem distantes as estrelas, e distante
O nosso primeiro beijo e tão velho o meu coração!»
Pensativos caminharam por entre as folhas murchas
Enquanto ele, tomando-lhe a mão, lentamente respondeu:
«A paixão muitas vezes cansou os nossos corações inconstantes.»
Os bosques cercavam-nos e as folhas amarelas
Caíam como débeis meteoros na escuridão e um coelho
Velho e aleijado passou de repente a coxear pela vereda;
O Outono tombava sobre ele. E agora eles ali estavam
Uma vez mais na solitária margem do lago:
Voltando-se, viu que ela lançara folhas mortas,
Colhidas em silêncio e orvalhadas como os seus olhos,
Sobre o seio e os cabelos.
«Oh, não lamentes», disse ele,
«O nosso cansaço; outros amores nos aguardam;
Odeia e ama ao longo das serenas horas.
Aguarda-nos a eternidade; as nossas almas
São amor e um contínuo adeus.»
W. B. Yeats, in “Os Pássaros Brancos e outros Poemas”
Pág. 20/21
(Tradução de Maria de Lourdes Guimarães e Laureano Silveira)
(Relógio d’Água)