Imagem de Paul Boychenko
Da minha janela olhei a água transparente do rio e o pequeno bote acostado ao cais. Sabia que ele me esperava do outro lado mas receara sempre passar para a outra margem.
Atravessei o jardim da casa e nem reparei que somente levava vestida a longa e transparente camisa de noite.
O bote deslizou suavemente ao longo do rio transpondo a distância que nos separava.
Ansiava olhar os seus olhos e fazê-lo sentir a ternura que dos meus se desprendia.
Pegar na sua mão e com ela percorrer cada poro do meu corpo sentindo o prazer crescer dentro de mim.
Deixar que os seus lábios me tocassem e suavemente percorressem os caminhos da minha pele sentindo o frémito do desejo apossar-se do meu corpo e levar-me ao delírio de uma volúpia cada vez maior.
Levo a mão à porta e de repente o Sol inunda o aposento.
De olhos já bem abertos o sonho foge-me…
De um salto percorro, de pés nus, a distância até à janela... olho ao longe o mar que me sorri maliciosamente como que a dizer-me que os sonhos são como a espuma das ondas… dissolvem-se nos grãos de areia…
Retribuo o sorrio.
É bom estar viva e continuar a sonhar.
Mesmo sonhos irrealizáveis.